sexta-feira, 6 de novembro de 2009

'Hassan Fathy: A Sinfonia Esquecida - "Arquitectura para os Pobres"



Hassan Fathy (1900-1989) era um homem notável: artista, músico e reformador social para os pobres do mundo. Com uma figura frágil, envolto por um ar de virtuosidade, projectava com vigor intelectual, tranquilidade e calma interior.

Hassan Fathy foi talvez o arquitecto egípcio mais importante do séc. XX. Licenciado pela Universidade de King Fuad I em 1926 (actual Universidade do Cairo), foi docente na Faculdade de Belas Artes do Cairo, onde chegou a ocupar o cargo de Director do Departamento de Arquitectura. Membro do Comité de Direcção do “Aga Khan Award for Architecture”, foi galardoado, em 1980, com os prémios “Balzan Prize for Architecture and Urban Planning” e ”Right Livelihood Award”.

As suas ideias, registos arquitectónicos e sociais têm como base a sua educação colonial e um profundo conhecimento “moldado” pela longa história do seu país, em especial da arquitectura, frequentemente controlada pela matemática e geometria mística. Seis princípios gerais guiaram-no durante toda a sua carreira: a primazia dos valores humanos no domínio da arquitectura; a importância de uma abordagem universal; o uso de tecnologia apropriada; a necessidade de um cunho social; a co-relação das técnicas de construção; o papel essencial da tradição e do restabelecimento do orgulho nacional através da construção. Fathy dedicou a sua carreira ao estudo da habitação dos “pobres” nos países em desenvolvimento. Utilizava métodos antigos de concepção e de materiais, ensinava os habitantes locais a fazerem os seus próprios materiais e a construírem as suas próprias habitações.

O livro mais emblemático de Hassan Fathy, “Arquitectura para os Pobres”, lembra a Nova Gourna, projecto onde culmina o seu empenho com a construção de uma cidade a partir de 1946 na localidade de Nova Gourna, perto de Luxor, no caminho da estrada que leva ao Vale dos Reis, um projecto destinado a albergar 7.000 pessoas. O projecto previa quatro bairros em torno de equipamentos urbanos colectivos, cada um organizado ao redor de uma praça rectangular cruzada por estreitas ruelas e por edifícios de dois pavimentos, todos diferentes. Uma cidade construída em tijolo de barro que falhou em grande parte devido à inércia burocrática e às rivalidades.

Partindo destes temas, o arquitecto espanhol Eloy Algorri reflectirá sobre “Arquitectura para os Pobres”, obra de Hassan Fathy que foi publicada 20 anos depois da construção frustrada de Nova Gourna. Trata-se de uma reflexão retrospectiva, enriquecida por experiências posteriores de Hassan Fathy, em particular pelo seu trabalho como consultor na empresa liderada pelo urbanista Doxiadis. Algorri defenderá o enquadramento de Hassan Fathy na escola que na década de 80 do século XX se denominou “regionalista” e, dentro dela, do seu eclectismo, pelo emprego selectivo dos seus precedentes históricos. Abordará também as ideias de Hassan Fathy sobre a tradição e a continuidade entre passado e presente, partindo da perspectiva proposta pelo pensador norte-americano D. Lowenthal.

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